(traducció: Academia Brasileira de Letras)
Soberanía
As coisas pequenas precisam de par.
Dois olhos.
Duas orelhas.
Dois braços.
Dois tornozelos.
Dois cotovelos.
Duas mãos.
Dois mamilos.
Duas pernas.
Dois ovários.
Dois testículos.
Dos joelhos.
Dois pés.
Mas a morte, a morte é tão grande
que só pode haver uma.
Transumância
Mencionamos apenas
as coisas palpáveis.
Acredito no que não vejo.
Se eu vejo, desconfío.
O invisível
nos curará.
No Internet Connection
Era uma cabeleira frondosa, disseram.
Era um ser criado com o barro da palavra,
pensei.
Os cabelos replicavam.
Tudo o que não pode ser dito se revela, mudamente.
Tudo o que não pode ser dito.
Ou seja, tudo.
Te queremos por quem não és
Não se pode ser ex-escritor
como não se pode ser ex-alcoólico.
A condição jaz dentro.
O lamento
O pintor chinês nas beiras do rio passou
mais de setenta anos antes de confrontar-se com a tinta. E você, que
quer o triunfo sem tragar o grosso. Os pincéis estavam para gastar-se
e a tela foi manchada pela primeira vez. O pintor havia digerido o
prisma com forma de ventre com que o olhar há de penetrar cada
elemento terreno.
Mas você optou por evitar a ordem das lunações.
Velhos são os discípulos que se reencontrarão
e velha é a história que ora conto em voz alta.